sábado, 5 de outubro de 2013


Continho de amor sozinho

Marianinha, vou-me embora! Cansei de ti, querida! Cansei destas casas, desses homens todos circulando em redor de nada, desse jardim sem propósito! Esse cheiro de casa, rotina, sonho programado. Preciso de tempo para ler meus livros! Além do mais, muito do que venho escrevendo ainda está por terminar. Essas paredes me sufocam, Marianinha! Você precisa me entender! Não me olhes assim como quem não compreende. Nunca fui seu. Nunca fui de ninguém, nem de mim! Levanta, Mariana! Não me ates a teu chão, porque isto me reprime! As malas já estão prontas e só preciso saber de ti, que ficarás bem! Aprende comigo! Esses arroubos adolescentes fazem mal, querida! Nos deixam vulneráveis, expostos a um outro ser, tentados a unir nosso caminho ao dele... abrir mão de nossos quereres, sentir uma dor que não nos pertence! Mais que isso! Sentir apego de tal modo que não se consiga mais pensar sua própria vida sem que a mesma esteja misturada a do outro como uma química insolúvel, provocando uma dependência sem remédio. Amar é perigoso, querida! E isso não pode fazer bem! Ouve! Foge! Faz como eu... Faz! Emudece o coração e prometo que nunca mais irás chorar! A solidão não é tão mal, pois nos liberta daquela ânsia de temer a perda! É uma prisão viver refém de um medo tão cruel: ter e perder! A solidão é libertadora, Marianinha! Tu vens e vais quando quer, como quer. Com ela te tornas um corpo livre e não um sentimento! Com ela, serás como eu, querida! Sozinho. Marianinha?

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Foi-se embora. Solidão é costume!
Carolina Moraes
06 de outubro de 2013