Continho de amor sozinho
Marianinha, vou-me embora! Cansei
de ti, querida! Cansei destas casas, desses homens todos circulando em redor de
nada, desse jardim sem propósito! Esse cheiro de casa, rotina, sonho
programado. Preciso de tempo para ler meus livros! Além do mais, muito do que
venho escrevendo ainda está por terminar. Essas paredes me sufocam, Marianinha!
Você precisa me entender! Não me olhes assim como quem não compreende. Nunca
fui seu. Nunca fui de ninguém, nem de mim! Levanta, Mariana! Não me ates a teu
chão, porque isto me reprime! As malas já estão prontas e só preciso saber de
ti, que ficarás bem! Aprende comigo! Esses arroubos adolescentes fazem mal,
querida! Nos deixam vulneráveis, expostos a um outro ser, tentados a unir nosso
caminho ao dele... abrir mão de nossos quereres, sentir uma dor que não nos
pertence! Mais que isso! Sentir apego de tal modo que não se consiga mais
pensar sua própria vida sem que a mesma esteja misturada a do outro como uma
química insolúvel, provocando uma dependência sem remédio. Amar é perigoso,
querida! E isso não pode fazer bem! Ouve! Foge! Faz como eu... Faz! Emudece o
coração e prometo que nunca mais irás chorar! A solidão não é tão mal, pois nos
liberta daquela ânsia de temer a perda! É uma prisão viver refém de um medo tão
cruel: ter e perder! A solidão é libertadora, Marianinha! Tu vens e vais quando
quer, como quer. Com ela te tornas um corpo livre e não um sentimento! Com ela,
serás como eu, querida! Sozinho. Marianinha?
... ... ...
Foi-se embora. Solidão é costume!
Carolina Moraes 06 de outubro de 2013