In memorian
É isso mesmo. Tudo tem um tempo
certo de ser. Todos têm um tempo certo para ser. Um dia você acorda e de
repente nada é mais como era. De repente, você abre os olhos e se descobre
tendo um passado. Mais que isso! Que as pessoas de seu passado não existem
mais, as casas foram vendidas, se perderam em meio a construções mais modernas
e as ruas ganharam asfalto te deixando sem lugar de referência. Onde estão
aquelas que podem dizer exatamente como você era em uma época em que não
atinava para isso? Em que lugar se perdeu a imagem das praças e das árvores que
povoaram seu imaginário e ajudaram a construir suas recordações, compondo
momentos só seus? Só sobraram as fotografias que você, com os olhos marejados,
fita comovido como a querer reviver o já vivido. Você até tenta voltar e
resgatar o que fez parte de você, mas para onde, se o lugar não mais existe?
Para quem, se a gente que povoava seu antigamente não está mais lá?
Contrariando as expectativas dos
livros de autoajuda, você percebe que crescer é eternamente se adaptar ao que
não mais existe, a quem não mais existe, aprendendo a lidar com as ausências
que nada de novo é capaz de substituir... Aí, você aprende a caminhar com os
vazios dessas presenças, e constata mesmo que seus patrimônios, com o tempo, se
transformarão em ausências e saudades, ajudando a edificar um passado que cresce
até você mesmo se tornar passado para si e para os outros.
A lei da vida só pesa, de fato,
quando os patrimônios se tornam intocáveis, deixando uma lembrança que você
tenta reter mais um pouco, mas que não consegue, porque o tempo se incumbe de
fazê-lo esquecer. Com o passar dos dias e anos, tudo perde a nitidez e você
entende o real significado da palavra saudade; as recordações se confundem, os
sabores se misturam e você não sabe se tudo era exatamente do jeito que
imaginara, porque sua memória não é mais a mesma. Muito se perdeu e você
aprende a conviver com isso, à custa de muitos sorrisos que vão ficando pelo
caminho.
A arte de abrir mão é cruel,
mesmo que com ela, você amadureça a fim de recomeçar... com menos cor, sorrisos
mais raros, alegrias mais contidas. A arte de abrir mão torna o ser humano mais
prudente e resiliente, ao tempo em que o transforma em algo meio morno, meio
outono, meio vivo mesmo.
Carolina Moraes
Feira de Santana, 12 de novembro de 2013
E nada mais precisa ser dito.
ResponderExcluirNada mais! :(
ResponderExcluirO tempo, senhor do destino... ainda tens muitas alegrias e muitos outros passados ainda a virar presente. Em breve, num tempo mais curto ou mais longo, tudo virá como doces lembranças e vez em quando com uma saudade apertada, mas voltarão os dias felizes de paz em seu coração.
ResponderExcluirLindo texto.
E assim a gente se adapta a essa lei da vida! Belo texto! ��
ResponderExcluirE assim a gente se adapta a essa lei da vida! Belo texto! ��
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